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membro fantasma [ost]

by ramon gonçalves

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1.
1. oi vou mandar por áudio porque tá uma correria maluca e não vai dar pra escrever direito agora já tem uns dias e, sei lá, acho que ainda não passou tempo suficiente pra poder processar tudo foi mal não ter falado nada até agora foi mal não consigo tirar da cabeça as coisas que você me disse mas é que é muita coisa e é tudo tão rápido, tudo tem rolado tão rápido, é como se estivesse vendo as coisas todas de fora, minha vida por fora de mim tá todo mundo esquisito, tá tudo esquisito, parece que tá todo mundo obcecado com imagem imagem é tudo foto é tudo vídeo, eu não sei, velho isso tudo tá me deixando perdido já tem uma cara até onde vai esse negócio todo, sabe? e eu não tô conseguindo fazer nada direito, parece que tem alguma coisa quebrada tá tudo tão escroto, tudo tão absurdo você ficou sabendo que invadiram o teatro outro dia? como assim, man? parece que tudo foi pra casa do caralho já, enfim parece que não importa o quanto a gente se esforce, o quanto a gente tente ainda assim é simplesmente impossível ficar de boa até porque a gente não tem como controlar a imagem que fazem da gente só tem como tentar não ficar tão mal por mais que a gente tente resolver as coisas no fundo no fundo somos só o que somos mesmo e já não sei direito se isso deveria se bastar mas tem coisas que levam muito tempo e não dependem só da gente mas ainda assim é muito difícil não puxar pra gente parece que tem alguma coisa quebrada e parece que tá todo mundo meio assim também, sei lá parece que é tudo vaidade e não estamos muito distantes disso tá foda, não consigo tirar da cabeça as coisas que você me disse tá tudo tão escroto, tá tudo tão absurdo que a última coisa que passou pela minha cabeça é que talvez eu seja isso também pra você e que talvez na real cê tenha razão sei lá
2.
interlúdio. sou como uma aranha presa no silêncio em um sonho a vibração do ventilador junto ao silêncio abafado da noite tem textura de chuva vai ver está chovendo em algum lugar sempre está eu me esforço para beber um pouco d'água e lá fora um céu rosa toma conta granulado no telhado e chove o cheiro sobe leve tudo dança um pouco como uma aranha presa num corpo cheio de fumaça esperando pelo inseticida despertador o desodorante aerossol encobrindo o cigarro do vizinho como uma metáfora patética americana eu concordo, eu sei ela me diz que tudo é passageiro ela tem razão e eu me desespero por três segundos em uma quase noite em quase pensamentos num distanciamento breve em uma quase despedida e somos o que somos os carros são só ferro os dias são um só as histórias são uma só somos protagonistas de nada os sonhos também, 10/11/15
3.
02 01:04
2. oi, diga *** mas é bem isso, fale por você. eu tô de boa, man. o que é foda mesmo é toda hora vir alguém me encher o saco como se essa situação se tratasse de todo mundo, menos de mim. parece que todo mundo que chega e diz que se preocupa na real quer é que eu dê um tapa nas costas pra satisfazer e ficar quietinho sem dar trabalho a ninguém. isso tá me tirando do sério
4.
3. alguma coisa em mim queria muito que me sentisse diferente.  mas é engraçada a forma como a insistência de tudo ao redor,  como a urgência de todo mundo por uma resposta melhor me deixa letárgico. eu não sei se isso é luto - até porque não sei dizer se sei de fato o que é luto - ou se a ficha ainda não caiu de verdade,  mas na real eu não sinto absolutamente nada. nada. e é foda como nessa tentativa esquisita de arrancarem qualquer reação minha as pessoas tendem a subverter a situação, fazendo com que se torne sobre elas e, na tentativa de qualquer sorte de um consolo reverso distorcido, dobrassem o esforço pra me cobrir de culpa. parece que gente assim sente pelo cheiro, sabe? sabem que no fundo, bem no fundo do vazio desse poço aqui,  minha rebeldia de criança é refletida de culpa. culpa. eles conseguem o que querem e mais uma vez eu caio em contradição.
5.
4. é isso. eu não sei o que dizer. tô num limbo esquisito, sabe? e sinto que não tem a ver diretamente com isso. tô com um negócio estranho no peito, me sentindo meio, sei lá, vazio, sabe? e faz um tempo já. parece que tá todo mundo esperando algo de mim que não sou capaz de dar e isso tá piorando tudo. sei lá acho que cê tem razão...  mas de uma forma muito louca, eu sinto que esse ruído na minha cabeça tem a ver com a insistência das pessoas... é muito estranho, sinto como se simplesmente não conseguisse de forma alguma ficar bem. apenas estar bem, sabe? não me sinto confortável com isso. parece que o tempo inteiro algum tipo de postura é esperada de mim e, além de não querer compactuar com isso, não faço ideia de qual postura seja essa, é uma linha muito tênue e acaba que fico flutuando de um lado pro outro,  sem saber em qual lado posso ou devo dar um tempo ou até mesmo se devo dar um tempo em algum desses lados... i isso faz algum sentido? *** é verdade
6.
5. como você está? eu tô muito preocupada. na confusão toda não tive como passar aí e todo mundo que te viu só me deixou mais preocupada ainda. tô com o coração apertado, você não me atende, não me responde, tô quase tendo um ataque... não faz isso comigo, por favor, manda uma mensagem ou qualquer coisa, só pra saber que você tá bem

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ruído . dissociação . éter
uma websérie_antologia visual por ramon gonçalves
instagram.com/membro_fantasma

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released April 5, 2020

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ramon gonçalves BA, Brazil

Multimedia artist, explores production possibilities, mixing formats and languages, having music and visual/graphic arts as principal researching methods.

Works with noisy soundscapes, textural minimalist music, spoken word poetry and lofi videomaking experiences.
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